Uma das queixas mais frequentes no consultório de um neurologista, sobretudo de especialistas em distúrbios do movimento, é o tremor. A grande maioria dos pacientes que apresenta tremor tem grande receio de apresentar doença de Parkinson. Porém, nem todo tremor é doença de Parkinson e nem toda Doença de Parkinson tem tremor.

A Doença de Parkinson é a segunda doença neurodegenerativa mais comum depois da Doença de Alzheimer. Os pacientes com a doença apresentam uma diminuição da produção de dopamina, particularmente em uma pequena região do encéfalo chamada substância negra. A dopamina é um neurotransmissor que tem um papel importante no controle dos movimentos. Os pacientes também apresentam um acúmulo de uma substância proteica chamada alfa-sinucleína, que se aglomera e origina os corpúsculos de Lewy (estruturas anormais que se desenvolvem dentro das células nervosas). A maioria das pessoas tem os primeiros sintomas a partir dos 50 anos de idade. Estima-se que a cada ano ocorram de 5 a 35 novos casos a cada grupo de 100 mil indivíduos, com uma incidência um pouco maior no sexo masculino.

 

Principais sintomas da doença de Parkinson

O principal sintoma da Doença de Parkinson é uma lentidão motora chamada de bradicinesia. Além disso, o paciente pode apresentar uma rigidez muscular, um desequilíbrio que chamamos de instabilidade postural, e o tremor (em geral durante o repouso) além de outros sintomas como redução do tamanho da escrita, voz baixa e monótona. Chamamos esse conjunto de sintomas motores de parkinsonismo.

O parkinsonismo pode ter outras causas como uso de medicações, por exemplo, ou outras doenças. Porém, nem sempre todos esses sintomas motores precisam estar presentes, sobretudo em fases iniciais da doença. Alguns pacientes têm a bradicinesia associada apenas a rigidez e instabilidade postural. Outros podem apresentar a bradicinesia associada ao tremor, sem rigidez. Assim, nem toda doença de Parkinson precisa ter tremor como um dos sintomas.

Existem também os sintomas que chamamos de sintomas NÃO MOTORES, e que muitas vezes se apresentam anos antes dos sintomas motores e podem trazer um grande prejuízo na qualidade de vida do paciente. Alguns dos principais sintomas não motores são:

      • Diminuição do olfato,
      • Alterações intestinais (sobretudo constipação intestinal),
      • Distúrbios do sono como o transtorno comportamental do sono REM que causa sonhos vívidos e o paciente pode dar chutes, socos, gritar e até se ferir ou ferir a pessoa que dorme ao seu lado,
      • Apatia,
      • Ansiedade e depressão,
      • Dormência em membros ou dor,
      • Hipotensão postural,

    Em fases mais avançadas da doença pode ocorrer alterações das funções cognitivas causando a demência secundária à doença de Parkinson.

     

      O que causa a doença de Parkinson?

      Acredita-se que seja uma combinação de fatores genéticos e ambientais. A apresentação da doença é extremamente diversa e individual. Embora não haja duas pessoas que experimentem o Parkinson da mesma maneira, existem alguns pontos em comum.

      Cerca de 10 a 15% de todos os pacientes com Parkinson apresentam causa genética. Já foram descritas dezenas de mutações genéticas relacionadas à doença. Sabe-se que algumas exposições ambientais podem reduzir o risco da doença, como prática de atividade física, consumo de cafeína e níveis adequados de vitamina D. Por outro lado, outras podem aumentar esse risco como traumatismo cranioencefálico ou exposição a certos pesticidas, agrotóxicos, metais pesados e solventes.

      Logo, o Parkinson é causado por essa combinação de genes, influências ambientais e de estilo de vida. A interação de todos os três componentes determina se alguém desenvolverá a doença.

       

      Diagnóstico

      O diagnóstico é baseado na história do paciente, uma revisão dos sintomas e um exame físico e neurológico. Podem ser solicitados exames complementares para descartar outras causas relacionadas aos sintomas.

       

      Os principais exames que podem ser solicitados são:

      • Ultrassom transcraniano com Doppler, que avalia a substância negra do cérebro.
      • Método de estudo do nigrossomo (substância negra): Permite detectar disfunções associadas à doença, mesmo em estágios precoces.
      • Cintilografia de perfusão cerebral com transportador de dopamina (Spect com Trodat), utilizada para verificar a ação da dopamina dentro do cérebro. O exame é realizado com a injeção de medicamentos capazes de se fixar no tecido cerebral que permitem a formação de imagens captadas por aparelhos de tomografia com informações sobre a intensidade da atividade da dopamina.
      • Ressonância magnética de encéfalo, utilizada para descartar outros diagnósticos.

       

      Tratamento da doença de Parkinson

      Embora não haja cura para a doença, existem várias opções de tratamento que incluem medicamentos, ajustes no estilo de vida, cirurgia e reabilitação com auxílio de fisioterapia, terapia ocupacional e fonoaudiologia.

      Como as pessoas com doença de Parkinson apresentam baixos níveis de dopamina no cérebro, existem medicamentos que aumentam a dopamina ou a substituem com melhora dos sintomas motores da doença. É comum que os pacientes tomem uma variedade de medicamentos, muitos em doses diferentes e em horários diferentes do dia. É importante também que sejam tratados os sintomas não motores da doença que, muitas vezes, são os que mais incomodam os pacientes.

      Em alguns pacientes pode ser indicado o tratamento cirúrgico que também tem o objetivo de controle dos sintomas. O procedimento cirúrgico pode ser adotado para complementar o tratamento medicamentoso, ou como alternativa quando o paciente não responde às medicações ou apresenta reações adversas importantes.

       

      Algumas orientações que dou para meus pacientes com doença de Parkinson são:

        • Embora tomar os medicamentos possa ser uma tarefa desafiadora, compreenda cada um deles e siga uma rotina para utilizá-los.
        • Crie um registro de seus sintomas em relação à dosagem de medicamentos, o tempo da administração da medicação até a melhora dos sintomas e a duração desse efeito.
        • Estabeleça expectativas ao iniciar ou ajustar um medicamento para saber se você está obtendo os benefícios adequados.

      Cada paciente apresenta a doença de uma forma diferente e, por isso, você não deve se comparar nem comparar seu tratamento com outros. Há vários estudos sobre o tratamento da doença de Parkinson em andamento, alguns com o objetivo de encontrar medicamentos que possam frear a progressão da doença. Porém, enquanto isso ainda não está disponível, é possível ter uma boa qualidade de vida com Doença de Parkinson. A confiança no seu médico, a modificação no estilo de vida e a adesão terapêutica são essenciais para o tratamento bem sucedido e controle dos sintomas.

      Entendendo a Doença de Parkinson
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